sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sobre prazeres

com opiniões pessoais e conceitos abstratos


Eu já falei noutras postagens que aprendi um pouco a meditar. De acordo com o que li, meditar e estar conscientemente no momento presente. Isso pode parecer fácil, mas a maioria das pessoas simplesmente ignora a realidade atual delas, e vive em mundo subconsciente a maior parte do tempo! Eu vou tentar explicar melhor.

Grande parte das pessoas fica divagando sobre o futuro e/ou o passado, pensando em seus medos e desejos sem se dar conta disso. É a raiz do ego -uma entidade auto-representativa que está de acordo não com a realidade de quem somos, mas do que pensamos e interpretamos. Muitas pessoas nunca se dão conta de quem elas realmente são, muito menos de quem os outros são, ou onde elas estão, ou para aonde vão. Apenas seguem um fluxo de pensamentos praticamente autônomos em suas cabeça. Nisso, buscam incessantemente por algo que as faça felizes, que alivie seus desejos inconscientes, que as faça fugir para outros pensamentos mais suaves.

Alguém poderia perguntar "mas o que há de errado nisso?". Vou responder com uma citação:
"Não deseje e não sofra! O desejo é a alma do sofrer."
                                                     Buda               

Eu preciso afirmar que, geralmente, o ser humano evita o sofrimento e busca a felicidade?

Pois bem. Chegamos onde eu queria.


Uma vez alcançando a paz, é até fácil voltar. Mas não é trivial para alguém que nunca a tenha visto, a não ser em relances passageiros.

O espírito humano, tanto em termos espirituais quanto em termos psicológicos, procura algo que o faça feliz. Para grande parte da humanidade, ser feliz é preencher vazios com vícios, de qualquer espécie. Vícios materiais como comida, sexo capazes de fazer alguém se concentrar em um prazer momentâneo; outros vícios que fazem com que os pensamentos incessantes se tornem menos audíveis, como drogas e bebidas; vícios mais abstratos como satisfazer o orgulho em ser melhor, ou criticar os outros, ou mesmo lamuriar.

Materialisticamente falando, tem-se manias que, quando vividas, alteram as atenções da mente, ou para algum estado de êxito, que libera neurotransmissores de prazer (e isso inclui comida e orgulho massageado), ou para um estado de semiconsciência, uma evasão de fato neuronal dos sofrimentos.

Claro, alguém pertinente poderia me dizer que a paz interior também poderia configurar num vício. Digo que se o é, essa é, disparadamente, a melhor das escolhas, pois além de fazer bem a saúde, ainda impulsiona um amor para com as demais criaturinhas ao nosso redor. E ainda por cima ajuda a sermos mais eficazes em várias tarefas! Recomendo, mesmo tendo-a tão pouco experimentado (eu acho).

Voltando aos demais vícios. Quem deles é cativo, está sempre em busca de os repetir. Eu mesma, ah, comeria todo o chocolate do mundo, se pudesse (e ainda bem que existe vaidade, porque se não, pesava uns 100kg a mais!). Dependências, além de mudar configuração neuronal para algo que as espere sempre, ainda leva a uma fuga da realidade.

Já ouviram falar que pessoas ansiosas são mais propensas à obesidade?
Aqui tem 1/2 matéria sobre o assunto (literalmente 1/2 matéria, mas só li essa metade)
http://www.alimentacao-saudavel.com/ansiedade-uma-das-causas-da-obesidade-parte-1/

Pois bem, eu vou falar sobre a minha semi-ótica: quando se está ansioso, é ainda mais difícil ir para um estado de satisfação, efeito que há quando se come algo bom, uma vez que os pensamentos tomam conta do indivíduo ansioso e este não consegue prestar atenção na comida. Então, come-se mais! Uma tentativa de sentir prazer, mas cuja atenção necessária para tanto fica vaga.

Com drogas ocorre algo um pouco diferente. Provavelmente a primeira vez que alguém experimenta uma droga seja mais por curiosidade ou por alguma pressão social. Mas o bom de algo que altere sua consciência é porque é uma experiência de fuga dos pensamentos! Uma fuga da realidade da sua mente, ainda que seja para as entranhas do subconsciente, também alterado pelas drogas.

(Quando fico bêbada fico mais tagarela e risonha, além de mais inconseqüente. Mas não curto tanto, não. Eu gosto de estar em perfeita posse de mim mesma (ainda que maconha está na minha lista de experiências futuras, pshhhh...))

Por último, sobre os vícios do ego, de se por cima em relação aos outros. É algo tão complexo, já falei outras vezes, e noutro dia eu falo mais. Mas, em palavras bem generalizadas, o próprio ego é o sofrimento. São desejos e medos com base apenas em fantasias da mente. Não são possíveis de serem suprimidos, é a própria natureza de prazeres efêmeros e temorosos do ego. Ele não pode se basear em nada real sobre o que é, já que é apenas uma interpretação de quem somos, levado muito a sério por quase todos nós.

Digo isso tendo em mente que valores como dinheiro, mansões, carros, beleza ou  qualquer desses clichês são levados a sérios pelas pessoas como determinantes para a satisfação de seus egos. Mas mesmo isso varia, pois alguém pode ter mais de uma opinião sobre é belo, por exemplo. Vícios do ego...

O mais chato disso é que só se vê a matrix fora dela. Não é possível compreender o ego com ele próprio.

Basicamente, tentamos de todos os modos obter prazeres. De qualquer espécie que forem. São sempre evasões da realidade, quando não a encaramos de frente com coragem, a evitamos olhar nos olhos, com medo de sofrer, porém com a audácia de sentir algo bom. Tudo para que o que for da nossa atenção, no momento, nos satisfaça.



Porém, digo, por própria experiência, que outros prazeres (vícios menos óbvios?) como dirigir em alta velocidade, jogar, lutar, e mesmo estudar algo que se gosta, tem algo em comum com os exemplos anteriores: presta-se atenção no que se faz, no momento em que se faz. Então, que bom que se tem alguns prazeres úteis, nessa vida!



É uma questão de estar presente no momento, e encarar o que estiver acontecendo. Além do mais, são escolhas que fazemos. Podemos viver várias experiências diferentes, de quais seremos cativos?


"Eu não entendi o que é fugir? Ou o que não é fugir..."

Eu diria que não fugir é estar em plena paz interior. Não falarei sobre esta, hoje. Muito longo o assunto, fica pra próxima.

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