sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sobre diabo, e sobre o ego


com esperança




Outro dia eu fui à missa com minha mãe. Apesar de eu ter tido uma criação católica, não me identifico como católica por n razões,sobre as quais não falarei hoje. Mas, mesmo assim, eu fui, pois minha mãe fica muito feliz, e tal. E nessa missa, o padre disse algo que eu preciso falar.

Em alguma hora da missa, nem lembro mais direito qual era o assunto, o padre comentou que "diabo" vem de "dividir", "aquele que divide". E é em torno disso que vou falar.

Começando do princípio.

(eu tenho tanta coisa a dizer que tá até dificil começar!)



A filologia é o estudo das palavras, de linguagem, de textos, sob uma perspectiva histórica e cultural. É como se fosse uma linguísticamais voltada para entender o que se passava na cabeça de quem escreveu textos, principalmente textos antigos, de povos extintos.

Nietzsche era filólogo! Interessante, não?

Existem estudos que procuram entender a forma de pensar de uma sociedade qualquer pelas palavras que elas usam, o significado destas e como e quando eram ditas. Entrando (na minha parte favorita) no cérebro humano, vê-se que ele reconhesse padrões extremamente abstratos, mas que se repentem, e aos quais ele pode ser capaz de definir e dar um nome. Exemplo clássicos: amor, raiva, compaixão, vontade. Estudar a linguagem traz informações desse tipo.

É interessante notar que nem todas as sociedades foram capazes de reconhecer um padrão e lhe dar um nome. Os portugueses, em algum momento, conseguiram definir "saudades" (sdds!) culturamente, e, ao que parece, nenhuma outra linguagem tem uma palavra específica para esse sentimento. Você poderia, quem saber dizer "I miss him, so much..." ou "Il me manque", mas são combinações de outros conceitos para tentar expremir a idéia que os portugueses, e por consequência nós, conseguimos exprimir puramente.

Então, basicamente, o cérebro reconhesse um padrão abstrato e o cortex pré-frontal e/ou o lado esquerdo do cérebro ligam-no a outra coisa, que no caso da linguagem verbal, é uma palavra (poderia ser até uma música, um desenho, uma pintura, o cérebro tem dessas).

"E o diabo, transnonsense?"

Exatamente, vou falar. Em algum momento, um latino ou um grego (a palavra vem do grego, mas poderia até ser que tivesse outra conotação) percebeu que aquele que separa estava causando discórdia e caos. Chamou-o de diabo! Aquele que separa. A partir daí, o termo foi se alastrando.

Infelizmente eu não consigo saber quem e em qual situação primeiro proferiu a palavra "diabo" ao conceito ligado à religião, como uma personificação do mal, e talvez eu passasse o resto da vida pesquisando, então eu vou pular essa parte.

O que aconteceu, é que ao longo do tempo, "diabo" passou a ser isso, a personificação do mal. Visto como um espírito maligno, cuja vontade é tentar as pessoas, causar o ódio e infelicidade.

Mas o que dividir e separar tem a ver com tentações, ódio e infelicidade?
Ta-daaa, cheguei no ponto que eu queria.

Na ocasião da missa, que falei no início, o padre falou que havia divisões entre nações, entre pessoas, entre religiões, mas ele não entrou muito em detalhes. Mas eu digo-lhes que minha interpretação filóloga sobre a etimologia de "diabo" é que há a separação entre o "eu", ou o "ego", e o que há do lado de fora -o resto do mundo; as outras pessoas.

Quase todos os indivídiuos desse planeta se vêem como um indivíduo jogado no mundo. Não têm certeza sobre o que são e quem são, e isso causa uma situação agoniate. Então, o ego, que é sua interpretação de si mesmo, constrói-se, pouco a pouco, com o que é dito-lhe que é bom, e tentando se afastar do que é dito-lhe que ruim. O ego funciona como um personagem, uma máscara para seu dono, que este utiliza para interagir com o resto do mundo. E, basicamente, o indivíduo crê ser seu ego.

O ego de cada pessoa é essencialmente muito parecido. Ele não costuma ter muitas certezas a seu respeito, e como exemplo, é por isso que se você disser a alguém que ele/ela é burro/burra, este pode ficar com raiva. A raiva é um sentimento de agressão quando estamos em algum perigo, mas que, talvez, possamos mudar a situação se agirmos com bastante voluntariedade (antes eu não gostava da raiva, mas depois de perceber isso, fiquei até mais amiga dela, é bom ter essa voluntariedade, um dia falarei sobre). Portanto, o indivíduo, tomado por seu ego, sente raiva!

Confuso?

Os budistas, os hinduístas a milênios já sabiam disso. A meditação é uma tentativa de calar o ego, e de ser o indivíduo em si, o seu próprio dono. Aliás, não ter dono algum. Para essas religiões antigas, o ego é o sofrimento, a cólera, o orgulho, o egoísmo, pois, sem ele, existe a paz, e mesmo a compaixão! (acrescento que a minha própria experiência de meditação confirma isso!)

O ego, em suas dúvidas cheias de sofrimento, também é o responsável pelo orgulho. Orgulho é o sentimento que há quando se está seguro, ainda que momentaneamente, quando nada nem ninguém pode causar dúvidas sobre suas caracteristicas interpretadas como boas. Por exemplo, se um indivíduo acha que ser inteligente é bom e acabou de tirar a melhor nota da turma, ele sente orgulho, pois esse fato do mundo externo faz com que nada que seja dito ponha em risco a situação de que o "o indivíduo é inteligente". Esta situação se repete em ter dinheiro, ser belo, e muitas outras características que, se você observar bem, são quase sempre possuidas por aqueles que estão no comando da sociedade; que tem algum poder sobre os outros.

Quase todos os males desse mundo são causados pelo orgulho. Quando um indivíduo põe outro para baixo, em uma escala consensual da sociedade de poder, o primeiro indivíduo sente-se por cima, sente um orgulho e um segurança de que seu ego está seguro. E, por desgraça da humanidade, para uma grande parte das pessoas, nada no mundo é mais importante do que manter seu ego seguro.

Um outro sentimento que provém do ego é o egoísmo. Etimologicamente já temos uma grande dica, né? O ego só se importa consigo mesmo. Ou você acha que se sua mãe tá correndo risco de vida, e precisa de você agora, você vai pensar "eba, assim vou impressionar meus amigos e minha paixão!". Não, né? Você socorrer sua mãe PORQUE VOCÊ A VÊ COMO UM INDÍVIDUO IGUAL A VOCÊ! VOCÊ A AMA!
(eu espero que ninguém seja tão psicopata de só salvar a mãe por orgulho...)

Se eu, em meu humilde saber dessabido posso dar minha humilde opinião desopinizada, amor é ver que o outro é um ser humano, ou ainda, um ser vivo igual a você:

somos mais propensos a ver aqueles próximos de nós, nossa família, por exemplo, como seres com fraquezas e virtudes como nós. Por isso os amamos. São pessoas, como nós, e suas companhias fazem-nos nos sentirmos bem (até por que somos sociáveis por natureza).
Nossos amigos costumam ser parecidos conosco, pois quando é assim, temos mais facilidade em ver o ser humano cheio de vida neles, do que quando é alguém muito diferente.

Então, o que posso dizer sobre o diabo é que amamos quando somos um, quando somos um no outro, e o outro em nós. E temos desafeto por quem vemos longe, separado de nós, diferente.


E o diabo seria aquele que diz que aquela mulher bonitona com roupas
muito curtas e justas não é um ser humano igual a você. Aliás, ela está na parte ruim do consenso que lhe foi dito, no seu juízo de valores introduzido ao ego. Então, segundo ego, ela é o outro diferente que pode ser humilhado para que o conforto egóico.

Segundo o diabo, o criminoso jamais será um ser humano igual a você, que calúnia absurda pensar isso!

Segundo o ego, o burro é completamente diferente de você, né? Por isso rio dele, o humilho.


Eu sou culpada. Já fiz tudo isso aí.
Mas em algum momento da minha vida eu me senti parte da humanidade. E senti que de Einstein a Hitler, passando por Gandhi, todos o éramos.



O problema é que todos temos um diabo próprio que diz o contrário.



E desde tempos antigos, povos ocidentias já diziam que aquele que separa é o que causa discórdia, o ódio, a infelicidade. Até te leva pro inferno, não é? Não seria aqui mesmo esse inferno?









(tinha colocado uma imagem e um vídeo, mas mudei de idéia. No final, não gostei muito da estrutura do meu texto, teve muita informação)









REFERÊNCIA:
"O Poder do Agora", Eckhart Tolle
(esse livro fala sobre o ego, meditação, referenciado, inclusive, pelo budismo)





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