domingo, 7 de dezembro de 2014
Secando pratos com caxemira
Sonhei com a liberdade
Até ela tomar forma
Se antes era camuflada de nuvem
Hoje virou abrir a boca na chuva
Ou brincar com um guindaste
Fingindo ser um pássaro na cidade
Mas tem a liberdade de dentro
Que como o vento,
Canta sem dizer uma só palavra
Esse é a liberdade que me causou
Uma implosão, um vácuo
E apagou as velas
que enfeitavam as lembranças
Liberdade me tornou um pêndulo
Sem relógio
Para onde vou agora
Quando só a mim pertenço
E minha casa nunca se vai embora?
Para que serve a liberdade
Se não para ser buscada com espada e sangue?
Ou para dizer que flores são órgãos reprodutores?
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Um conto sobre preguiça 3
A Batalha de Abertura
Algum daqueles mundos envenenados de personalidade se dividiu entre suas várias personificações. Surgiu, então, da savana azul, uma entidade chamada Funig. O ambiente, a savana, todo foi idealizado por Funig, ou talvez, se espelhou dela sem ter sido pensado. Era uma árida savana, azul pela pouco luz, seca de poucas tempestades, desvirtuosa de emoções. Funig era a entidade mestra, lá tudo era seu reflexo, e esta, por sua vez, era um reflexo de onde estava.
Funig passava o dia sentada, esperando desaparecer.Desaparecer parecia melhor que existir, mas para isso seria necessária alguma dor desconhecida, e Funig temia-na. Diferenciar as estrelas parecia mais certo que desaparecer, e era isso que Funig fazia. A entidade passava as horas a arrastar galhos secos no chão, sendo conscientemente vã. O peso de existir fazia Funig espirar gases sórdidos de seu pulmão. Isso matava ainda mais aquela savana. Era uma vilã, segundo alguns, ainda que ela pedisse desculpas por sê-lo.
Algum dia, veio uma tempestade solar. Assoprou toda a poeira velha, e incandesceu os folhas secas. Surgiu Irgen. Irgen era incandescente, queimava o que tocava, feria quem estivesse ao seu redor, inspirava agressividade. Contudp, Irgen tinha enormes poderes. Além de iluminar aquela savana quando chegou, Irgen modificava a realidade. Ao longe, parecia que era o próprio espaço-tempo que vibrava ao redor da nova entidade, o tanto que seu calor parecia transformar o mundo ao seu redor.
Quando Irgen chegou, pôs suas mãos na terra e transformou tudo em fogo. E quando o fogo sessou, surgiu grama, surgiram flores, surgiram mesmo emoções coloridas do chão. Irgen, por onde estivesse, brilhava tanto que se fazia rainha. Enquanto estava lá, ela transformou aquela savana no exato jardim que jamais alguém acreditou que pudesse ser possível de se haver. Contudo, Irgen era tirana, e queimava tudo o que sai de seus planos -transformava as folhas caidas e as pedras quebradas em carvão.
Quando Irgen surgiu, Funig queimou no vão que se abriu em si mesma. Mas ela não deixou de existir. Funig está fadada à imortalidade, enquanto seu mundo existir. Entretanto, Irgen a ignorava. Irgen construiu um império sob seu total controle. E para controlá-lo, ela queimava tudo o que se atrevesse a desafiá-la. Ela se ocupava de criar todos seus caprichos por conta própria, e construí-los ou destruí-los segundo seus desejos.
De tanta força que Irgen usava, de tanto calor que ela liberava, naquele jardim não pousavam mais pássaros, a chuva evaporava antes de refrescar o chão, as flores secavam de calor. Irgen, rezavam os visitantes, era impiedosa e cruel.
Quando Irgen chegou, pôs suas mãos na terra e transformou tudo em fogo. E quando o fogo sessou, surgiu grama, surgiram flores, surgiram mesmo emoções coloridas do chão. Irgen, por onde estivesse, brilhava tanto que se fazia rainha. Enquanto estava lá, ela transformou aquela savana no exato jardim que jamais alguém acreditou que pudesse ser possível de se haver. Contudo, Irgen era tirana, e queimava tudo o que sai de seus planos -transformava as folhas caidas e as pedras quebradas em carvão.
Quando Irgen surgiu, Funig queimou no vão que se abriu em si mesma. Mas ela não deixou de existir. Funig está fadada à imortalidade, enquanto seu mundo existir. Entretanto, Irgen a ignorava. Irgen construiu um império sob seu total controle. E para controlá-lo, ela queimava tudo o que se atrevesse a desafiá-la. Ela se ocupava de criar todos seus caprichos por conta própria, e construí-los ou destruí-los segundo seus desejos.
De tanta força que Irgen usava, de tanto calor que ela liberava, naquele jardim não pousavam mais pássaros, a chuva evaporava antes de refrescar o chão, as flores secavam de calor. Irgen, rezavam os visitantes, era impiedosa e cruel.
Mas eventualmente, Irgen se cansou e adormeceu. Sentiu que transformar o mundo drenava-a.
Foi o momento em que Funig ressurgiu. Funig absorveu toda aquela energia, enquanto Irgen dormia. Funig virou uma enorme bolha de tanta energia que recolheu do ambiente, e este, por sua vez, começou a virar uma savana novamente.
Durante seu sono, choveu algumas emoções em Irgen. Ao despertar, Irgen viu que todo seu jardim se esvaziara de vida. E Irgen percebeu que havia uma responsável por isso.
Foi o momento em que Funig ressurgiu. Funig absorveu toda aquela energia, enquanto Irgen dormia. Funig virou uma enorme bolha de tanta energia que recolheu do ambiente, e este, por sua vez, começou a virar uma savana novamente.
Durante seu sono, choveu algumas emoções em Irgen. Ao despertar, Irgen viu que todo seu jardim se esvaziara de vida. E Irgen percebeu que havia uma responsável por isso.
-O que fizestes com meu jardim, ser perdido? -começou a se esquentar Irgen com Funig.
-Nada. Só tava ali. Tive medo de sair e perder tudo, então achei melhor engolir tudo antes de sumir.
-Isso não faz sentido! Como alguém pode engolir meus feitos? Devolva-os imediatamente!
Mas Irgen não sabe que Funig é incapaz de qualquer coisa, a não ser absorver e desenhar na areia. Não poderia devolver o que ela havia absorvido. Funig, sentada, olhou para Irgen sem nada dizer.
-Se não me devolveres, tomo-lhe a força! -enfureceu-se Irgen. Sua fúria a fez brilhar. Seu brilho incandescente aumentou. Ela foi em direção a Funig e meteu a mão em seu coração. Funig era gelatinosa, enquanto Irgen era como fogo. Funig, sem nada fazer, apagou a mão de Irgen, que olhou assustada a sua impotência repentina.
-Estás a me desafiar? Ninguém me vence! -bradou Irgen. Funig a olhava indiferentemente. Irgen repetiu o golpe, porém nada mudava. Ela reacendia suas mãos a cada apagar, mas Funig também não sentia diferença.
No fundo, Funig achou que talvez fosse uma boa oportunidade de deixar de existir. Talvez o mundo devesse pertencer àquela figura forte, que por catástrofes transformava-o. Ela fechou os olhos e aguardou. A sua indiferença fez Irgen ainda mais brilhante. Socava-lhe o peito furiosa em vão. Em uma última tentativa, Irgen se jogou dentro da enorme figura de Funig. Sem ar, Irgen começou a desaparecer. Ela sentiu um enorme desespero, naqueli que parecia ser seus últimos instantes.
-Estás a me desafiar? Ninguém me vence! -bradou Irgen. Funig a olhava indiferentemente. Irgen repetiu o golpe, porém nada mudava. Ela reacendia suas mãos a cada apagar, mas Funig também não sentia diferença.
No fundo, Funig achou que talvez fosse uma boa oportunidade de deixar de existir. Talvez o mundo devesse pertencer àquela figura forte, que por catástrofes transformava-o. Ela fechou os olhos e aguardou. A sua indiferença fez Irgen ainda mais brilhante. Socava-lhe o peito furiosa em vão. Em uma última tentativa, Irgen se jogou dentro da enorme figura de Funig. Sem ar, Irgen começou a desaparecer. Ela sentiu um enorme desespero, naqueli que parecia ser seus últimos instantes.
-Como, eu, senhora desse mundo, posso ser derrotada tão facilmente? Não, isso não é possível!
A savana escurecida, azulada, tinha, como único ponto de luz amarelada, Irgen dentro da enorme forma gelatinosa de Funig. A voz de comando de Irgen foi abafada, derrotada pela preguiça de resistir de Funig. Funig ainda tinha a esperança de não existir, dentro de si.
continua...
continua...
terça-feira, 18 de novembro de 2014
As Dúvidas
de uma mente sem lembrança, pode?
Em algum dia esquecível, mas fatídico, eu duvidei. Eu não sei depois o que aconteceu, mas sei que ainda duvido. Eu duvidei tanto que é meu moto-continuo. Tudo se apresenta para mim como um tufão, que impede que eu toque certezas me assoprando para o longe; me faz voar e enxergar dessignificados.
Dessignificados. Tudo se despe. Sobra algum fluido qualquer, que me lembra que, se o que eu duvido foi feito por uma pessoa, então foi feito por uma pessoa. Transmitimos ideias, criamos padrões, comunicamo-nos, damos valores, avaliamos -tudo duvido.
Contudo isso está tudo perdido na minha mente. Enquanto o mundo gira em valores aceitos, eu não os consigo tocar. Eu estou presa, num mundo onde o valor é uma fumaça, onde a a dúvida, ou experiência, é a moeda de troca que a minha mente me pede para continuar existindo. Graças aos céus, eu posso negociar com esta. Ainda sinto que meus abrigos estão nela. Meus abrigos, mas não eu.
-engraçado é que...
Um dia eu duvidei da mente. Ela quase deixou de existir (e não eu). E esse foi outro dia fatídico, talvez até inesquecível.
Todavia, a mente se regenera na dúvida, seu meio.
Para que eu ainda tivesse um pedaço de terra nesse caos que é o lado de fora, eu tive que me assemelhar a ele. Agora eu caço dúvidas.
-
É isso. Eu caço dúvida, pois, do contrário, eu não existo aqui fora. Eu seria apenas completa na minha desavaliação e dessignificância desmentidas. Por isso duvido tanto, e talvez me conheçam segundo minhas dúvidas.
(sem mente, talvez apenas ouvisse música e colhesse flores)
domingo, 10 de agosto de 2014
Mais um pouquinho sobre preguiça
e
tenho a impressão que algum dia eu vou morrer de preguiça. Serio! Há pessoas que morrem porque comem demais, outras que bebem demais. Parece-me que vou morrer de preguiça. Não sei como, mas deve haver um jeito.
Talvez eu não consiga trabalhar, pois estou com preguiça, e morra de fome, sem dinheiro.
Talvez meu organismo perceba minha preguiça e fique com preguiça de metabolizar e eu morra.
Talvez eu fique com preguiça de sair da cama, de acordar, até entrar em coma e, sei lá, morra.
Talvez eu morra com preguiça de colocar o sinto de segurança.
Talvez meu organismo perceba minha preguiça e fique com preguiça de metabolizar e eu morra.
Talvez eu fique com preguiça de sair da cama, de acordar, até entrar em coma e, sei lá, morra.
Talvez eu morra com preguiça de colocar o sinto de segurança.
Talvez eu morra pois fiquei com preguiça de apertar o freio do carro.
Talvez eu morra de tédio.
Mas é mais provável que eu morra de internet.
Internet é fácil demais para se ter preguiça. Fácil demais para se viver dela, se aprofundar ou se realizar nela. É como um buraco negro, do qual você não consegue sair. A internet passa a habitar seus pensamentos e suas (falta de) conclusões. Estou na internet e ela em mim. Um verdadeiro câncer sem fim!
Volta eu meia eu me retiro do facebook. No início eu tenho uma ânsia "preciso... ver... facebook... p-preciso", mas, por alguma razão, eu consigo ignorar essa vontade quando eu desativo-o. Se eu passar mais de duas semanas, eu começo a voltar a adquirir minha personalidade. Sim, a internet é capaz de influenciar minhas tomadas de decisões de "vou me concentrar em tal coisa" para qualquer conjunto de n informações, me fazendo sumir em meio a pensamentos desconexos e difusos, além de serem confusos, muita vezes.
Talvez eu morra de tédio.
Mas é mais provável que eu morra de internet.
Internet é fácil demais para se ter preguiça. Fácil demais para se viver dela, se aprofundar ou se realizar nela. É como um buraco negro, do qual você não consegue sair. A internet passa a habitar seus pensamentos e suas (falta de) conclusões. Estou na internet e ela em mim. Um verdadeiro câncer sem fim!
Volta eu meia eu me retiro do facebook. No início eu tenho uma ânsia "preciso... ver... facebook... p-preciso", mas, por alguma razão, eu consigo ignorar essa vontade quando eu desativo-o. Se eu passar mais de duas semanas, eu começo a voltar a adquirir minha personalidade. Sim, a internet é capaz de influenciar minhas tomadas de decisões de "vou me concentrar em tal coisa" para qualquer conjunto de n informações, me fazendo sumir em meio a pensamentos desconexos e difusos, além de serem confusos, muita vezes.
Aliás, eu fico me indagando se debaixo de toda essa preguiça ainda existe uma eu interessada em alguma coisa. Uma eu apaixonada, envolvida com alguma ideia, ou no mínimo que realiza uma atividade sem enrolar por dias.
Uma eu ainda fluente na vida real.
Sempre tenho a impressão que uma hora eu vou querer tanto uma coisa que vou surgir dessa névoa de preguiça com uma espada na mão, gritando e correndo, até que tudo fique para trás, e eu vença nessa vida!
Mas até agora nada.
Acho que devo começar a pensar num plano B para não morrer de preguiça.
Talvez eu saia um tempo da internet (leia-se redes sociais).
Talvez eu carregue comigo teaser, e me dê um choque toda vez que eu demorar mais de 5 minutos para fazer algo. Mas isso pode me dar preguiça de me dar um choque.
Uma eu ainda fluente na vida real.
Sempre tenho a impressão que uma hora eu vou querer tanto uma coisa que vou surgir dessa névoa de preguiça com uma espada na mão, gritando e correndo, até que tudo fique para trás, e eu vença nessa vida!
Mas até agora nada.
Acho que devo começar a pensar num plano B para não morrer de preguiça.
Talvez eu saia um tempo da internet (leia-se redes sociais).
Talvez eu carregue comigo teaser, e me dê um choque toda vez que eu demorar mais de 5 minutos para fazer algo. Mas isso pode me dar preguiça de me dar um choque.
Ou pior: eu posso me acostumar com o choque.
Além de tudo, a preguiça me faz me acostumar com as coisas nem tão boas da vida. "Mude não, Transnonsense, eu sei que não tá tão ruim ;)"
Além de tudo, a preguiça me faz me acostumar com as coisas nem tão boas da vida. "Mude não, Transnonsense, eu sei que não tá tão ruim ;)"
Ah, essa carinha ;) me dá uma raiva...
Parece que esse é o plano da preguiça; ela me olha com um olhar debochado, fala para mim que sou muito menor que ela, que se eu a deixar me arrependerei até o último nucleotídeo do meu ser, que eu dependo dela para sobreviver.
Bom, preguiça, você vai ver só, eu vou criar um plano para me livrar de você, assim que eu não tiver preguiça para tanto.
Bom, preguiça, você vai ver só, eu vou criar um plano para me livrar de você, assim que eu não tiver preguiça para tanto.
domingo, 20 de julho de 2014
Soneto
Primeiro Soneto a Outrém
Desconhecia o enfeite luminoso no peito
Envolto com carinhos de seda, de camurça
Com espontânea predileção por alguém
Que pouco viu o reflexo intríseco lhe feito
Suplícios para esvairecer-se na realidade
Auto-ditos juízos davam-lhe excusas
Luzes argumentavam com tudo o que têem
"A preciosidade está justo em m'a verdade!"
Céus, p'ra quê sementes em campinas sob águas
Se, levantando o amado candelabro assopra
Gélido esse real do fantasma imaginário
Implosão advinda das conclusões das ressalvas
Perdido num lago cinza, um vácuo, agora
Por quê, alma, és cáustica como calcário?
O Conto de Natal do Chá Mágico
pois era natal quando...

O chá mágico anti-preguiça!
Depois de beber todos dias o seu chá, Sara dominou o mundo.
Aliás, todos os mundos!
Sara descobriu passagens para novos universos, onde, com ajuda de seu chá, ergou sua bandeira pró-Sara.
Num desses universos, ela viu uma Sara-paralela que não misturou o ingrediente secreto no chá mágico anti-preguiça.
A Sara-paralela passou o resto dos seus dias (que foram muitos) lutando eternamente contra a preguiça, que nunca dominou. A vida de Sara-paralela era na internet.
Enquanto isso, Sara era uma tirana maníaca que não queria dividir seu chá.
Também, quem não seria, com tanta coragem, tirânico despreguiçado?
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Assuntos, matemática, linguagem, dúvidas existenciais...
(tudo muito louco)
Um assunto leva a outro, num degradê contínuo, em qualquer conversa. Quando criança, certa vez, ouvindo meus pais conversarem com amigos, eu disse que conversas são que nem arco-íris: as cores mudam, mas não dá pra saber exatamente onde, porém uma leva a outra devagarzinho, igual aos assuntos. Acho que minha mãe não entendeu na época, mas não vem ao caso.
Sempre imagino uma conversa top-down sobre ciências. Começa com algum fenômeno cotidiano interessante, como, sei lá, lavar a calçada. Alguém coloca as razões políticas que fazem o estado lavar ou não uma calçada. Depois, alguém fala que a sociologia explica de tal e tal forma.
Aí, da sociologia, dão razões à psicologia indivídual.
Que passa a responsabilidade às questões neurológicas.
Que pede explicações da biologia evolutiva.
Que por sua vez se sustenta no estudo do DNA, logo, da química.
Que é uma macrovisão da física quântica.
E que por último é sustentada pela matemática.
Pensava eu, então, que a matemática é o mais puro dos estudos. Entretanto, dando uma olhada nas diversas formas de álgebra que exitem para interpretar o resto dos sistemas desse mundo, eu me perguntei
Mas de onde vem essa sintaxe da matemática?
E para minha surpresa, no meu raciocínio eu encontrei o fator humano, novamente. A sintaxe é criada e associada à semântica por alguém! Lógico! Os fenômenos físicos e lógicos estão lá (e cá), mas precisa de alguém para dizer
"Essa porra aqui faz todo o sentido!"
ou um outro eureca, qualquer...
Sendo assim, chegamos na ciência da linguística para nos conduzir a outro grau das explicações. A linguística usa-se a si para se explicar, tal qual a álgebra matemática. Na verdade, uma linguagem humana "natural" pode ser capaz de se equivaler a linguística. Pense que 2+2 pode ser dito como duas maçãs junto com mais duas maçãs. Os nomes, nesse caso, das entidades lógicas (algarismos) são inclusive os mesmos.
Pode-se dizer que a linguagem natural e a matemática travam um relação de equivalência, e, ainda que eu não consiga provar nem que sim, nem que não, como ambas tem a mesma origem (a mente humana que percebe o mundo ao seu redor) não vejo qualquer razão para elas não poderem ser equivalentes.
De tal modo, podemos dizer que, da matemática, vamos à linguística e podemos chegar na psicologia de novo.
Na verdade, só podemos avaliar a psicologia com a nossa linguagem. Então, o verdadeiro fim da recursão de estudos é a linguística, pois para provarmos uma ciência precisamos de uma outra fora dela que a explique.
O que devemos fazer, então, para provar que nossa linguagem tem corretude e completude* para descrever o mundo de forma universal e lógica?
Nada.
Ora, se vierem alienígenas que vivam no mesmo sistema físico que o nosso e compartilhassem sua linguagem conosco, não seria diferente que aprender uma língua de outro continente, de outros tempos. Haveria diferenças, claro, mas a percepção do mundo ao nosso redor (lembre-se que os aliens vieram apenas de outro plantena, onde F=m*a, igual aqui) seria semelhante. Pode ser que existisse um nome específico para a aceleração da aceleração, por exemplo, mas nada que nosso sistema não se equivale.
Por outro lado, assim como ocorre quando conhecemos gente de outro cultura, os aliens, muitíssimo provavelmente, teriam conceitos novos que poderíamos adotar e espandir nosso controle mental sobre a realidade. (Conceito nada mais é que o controle mental de algo perceptível (ou imaginário)).
Ora, se os aliens vinhessem de uma dimensão onde as regras da física e da lógica não valem, aí sim, teríamos uma expansão de sistemas que conhecemos.
Mas será que seria possível avaliar nossas linguagens perante a realidade deles?
Na verdade, a não ser que nossa realidade estivesse contida inteiramente na deles, seria como você me perguntar
"Qual é o melhor tom de azul para comer pizza?"
-Se nos depararmos com um sistema lógico que exclua o nosso será algo totalmente inútil para entendermos o último, mas não deixaria de ser interessante (ou tão mindfuck que morréssemos de agonia).
Sendo assim, existem duas possibilidades:
-não há certeza nenhuma e jamais haverá
-os aliens estão em uma realidade que contém a nossa e algo mais atrelado a essa
Daí vem ao menos duas perguntas
-por que certeza é tão bom para nunca pararmos de buscá-la, ainda que seja em vão?
-existem alienígenas?
Aliéns ou talvez algo espiritual, talvez. Ou mesmo outras dimensões maiores. Mas e se lá também houver dúvidas?
Aliás, qual é o critério de parada dessa recursão?
Por alguma razão (que talvez a biologia evolutiva já nos dê alguma explicação) nós, humaninhos, sempre estamos em busca de certezas. E por incrível que pareça, mesmo a certeza que 2+2=4, ou que o avião vai voar, ou que você existe depende de uma fé de que tudo o que já foi provado nas nossas linguagens continuará igual em qualquer futuro (ou passado).
Ah, quantas perguntas...
*Na Ciência da computação teórica, a corretude de um algoritmo pode ser afirmada quando se diz que o algoritmo é correto com respeito à determinada especificação. O termo corretude funcional se refere ao comportamento de entrada-saída do algoritimo (i.e., para cada entrada ele produz a saída correta).
(daqui)
A completude é uma propriedade de uma teoria lógica; um sistema formal é chamado de completo quando qualquer sentença verdadeira pode ser deduzida do sistema.
(dali)
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