de uma mente sem lembrança, pode?
Em algum dia esquecível, mas fatídico, eu duvidei. Eu não sei depois o que aconteceu, mas sei que ainda duvido. Eu duvidei tanto que é meu moto-continuo. Tudo se apresenta para mim como um tufão, que impede que eu toque certezas me assoprando para o longe; me faz voar e enxergar dessignificados.
Dessignificados. Tudo se despe. Sobra algum fluido qualquer, que me lembra que, se o que eu duvido foi feito por uma pessoa, então foi feito por uma pessoa. Transmitimos ideias, criamos padrões, comunicamo-nos, damos valores, avaliamos -tudo duvido.
Contudo isso está tudo perdido na minha mente. Enquanto o mundo gira em valores aceitos, eu não os consigo tocar. Eu estou presa, num mundo onde o valor é uma fumaça, onde a a dúvida, ou experiência, é a moeda de troca que a minha mente me pede para continuar existindo. Graças aos céus, eu posso negociar com esta. Ainda sinto que meus abrigos estão nela. Meus abrigos, mas não eu.
-engraçado é que...
Um dia eu duvidei da mente. Ela quase deixou de existir (e não eu). E esse foi outro dia fatídico, talvez até inesquecível.
Todavia, a mente se regenera na dúvida, seu meio.
Para que eu ainda tivesse um pedaço de terra nesse caos que é o lado de fora, eu tive que me assemelhar a ele. Agora eu caço dúvidas.
-
É isso. Eu caço dúvida, pois, do contrário, eu não existo aqui fora. Eu seria apenas completa na minha desavaliação e dessignificância desmentidas. Por isso duvido tanto, e talvez me conheçam segundo minhas dúvidas.
(sem mente, talvez apenas ouvisse música e colhesse flores)
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